Ele se endividou pra comprar Bitcoins

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Empresa vai pegar empréstimo para comprar Bitcoins

A MicroStrategy, do famoso investidor Michael Saylor, quer outros US$ 500 mi em empréstimos para comprar Bitcoins. A empresa já tem US$ 3,6 bilhões em dívidas e acumula 214.400 Bitcoins.

Importante: episódio fictício. Não estive em encontro algum.

“Tive uma ideia!” disse Michael de sobressalto.

Seu amigo ergueu os olhos, em descrença. Michael sempre tivera boa ideias e fizera sua fama no mercado com isso. Mas ele sabia também que a cada dez novas ideias do empreendedor, apenas uma se provava de fato. Bom, já embarquei nas últimas nove, preciso ir nesta agora, pensou. “O que é desta vez?”

Precisamos nos tornar os maiores proprietários de Bitcoins do mundo”

O amigo sentiu um desânimo instantâneo. Até entendia o propósito das criptomoedas, mas entre isso e querer comprar todos os Bitcoins disponíveis havia uma grande diferença. Sonhos grandes demais já haviam levado ambos à quase falência na Bolha da Internet em 2000. “Michael, amigo, nós não temos nem de perto o dinheiro pra isso.”

“E quem falou em dinheiro nosso?”

Nesse momento Michael já se levantara, o entusiasmo crescendo à medida que o desenrolar do plano ia lhe saltando à mente. “Como é mesmo o nome daquele seu amigo que toma conta do dinheiro da nossa faculdade hoje em dia?”

“O John” respondeu. “Mas nem se ele quisesse usar o dinheiro do MIT nisso ele poderia. O estatuto deles é super engessado. Só pode ter Treasuries, crédito privado e ações, eu acho. No máximo um private equity. O resto é tudo proibido. E olha que eu sei que o John adoraria comprar Bitcoin, ele é fanático igual você com essa história.”

“Exato!” os olhos de Michael brilhavam. “Crédito privado! Nós já temos uma empresa, ela já é até listada na Bolsa. Agora nós vamos começar a endividar ela, emitindo títulos de dívida, pegar todo esse dinheiro que entrar e investir tudo em criptomoeda.”

“Mas os investidores vão topar?” O entusiasmo de Michael começara a contagiar o amigo.

“Eles são loucos pra ter cripto e não podem. Mas emprestar pra empresas, principalmente listadas e auditadas, todos podem. A gente vai estar dando uma chance única pra eles! É genial!”

“Você tem razão. É renda fixa!”

“Sim! Pra eles, né? Porque pra nós vai chacoalhar bastante. Mas não importa. E a melhor parte é que os Bitcoins vão ser da nossa empresa e não de quem emprestou o dinheiro. A gente promete pagar um juros mixaria por alguns bons anos e quando chegar a hora de devolver o empréstimo a gente propõe pagar em ações da empresa. Se o plano der certo e as criptos realmente engatarem, a maioria vai querer as ações. E aí a gente não precisa nem desembolsar dinheiro, é só entregar algumas ações!”

“Meu Deus!” Nesse momento o amigo também já estava de pé. O coração acelerado. Era de fato uma ideia brilhante. Finalmente ela chegara. A décima! Eles só precisariam que o mercado cripto permanecesse em alta por alguns anos e todos estariam bilionários. Era possível.

“E se alguém quiser o dinheiro de volta, com juros, a gente só emite mais dívida pra pagar e fica devendo outra pessoa. Sempre vamos encontrar mais alguém disposto a entrar nessa. Cripto é o futuro!”

Michael se sentara e agora estava sério, olhando para o chão. O amigo reconhecia essa feição. Ele estava fazendo contas.

“Precisamos juntar pelo menos meio milhão de Bitcoins nos próximos anos. Isso deve nos custar uns US$ 10 bilhões…”

Meu deus, é muita dívida, pensou o amigo e sentiu seu sangue gelar. O entusiasmo se esvaiu. Michael talvez estivesse pensando grande demais. Vivera esse pesadelo em 2000 e não queria repeti-lo. Demorara uma década pra conseguir dormir noites inteiras novamente. “US$ 10 bilhões?! Não é um pouco exagerado?”

“Acalme-se, amigo. Você nem imagina o que dá pra fazer sendo monopolista de uma moeda escassa. Lá na frente você vai entender…”

FIM

Bruno Paolinelli

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Aqui acabamos. Até domingo que vem!