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Estrangeiros saindo do Brasil
Tempo de leitura: 4 min
Estrangeiros retiram R$ 24,5 bilhões da Bolsa brasileira em 2024
O acumulado deste ano é o pior da série histórica, desde 2008. 2024 quebra uma sequência de quatro anos de entrada líquida de recursos.
Importante: episódio fictício. Não estive em ligação alguma.
“Alô?” a voz do investidor americano ressoou do outro lado da linha, impaciente. “Quem é?”
“É o João, senhor, seu banker. De Brasil…”
“Pô, Joe!” interrompeu o investidor. O tom sugerindo que qualquer discussão sobre Brasil seria menos atraente do que observar a chuva que caía do lado de fora. “Isso é hora de ligar pra cliente?! To almoçando, tá de sacanagem? Você tem 2 minutos”.
João inspirou fundo, lembrando-se das incontáveis vezes que foi chamado de "Joe" por estrangeiros, um equívoco que sempre lhe causara um desconforto sutil. "Direto ao ponto, então. Estamos vendo uma janela de ouro pro Ibovespa agora…”
“É uma empresa de motos isso?” cortou novamente o americano. “Porque se for tem que ser elétrica. Só investimos em coisas elétricas aqui”.
“Não, senhor, é nosso índice de ações.” João sentiu uma pontada de frustração. Apesar das duas décadas de dedicação do experiente banker da Faria Lima, ainda assim sentia um desânimo especial ao ligar para estrangeiros.
“Você tá falando de qual país, mesmo?”
“Brasil, senhor. Tem muita oportunidade aq..”
“Pera, não foi aí que baniram o Twitter?!” disparou o investidor, o tom de voz finalmente interessado.
“Na verdade, não chegamos a tanto.”
“Eu vi o Elon Musk falando disso! Tá banido, sim! Que loucura isso aí hein, Joe?”
Pressionado, João tentou corrigir o curso da conversa. “Isso logo mais tá resolvido. Mas preciso te falar sobre um trade que você vai gostar. Nosso Ibovespa está muito barato! A maioria das empresas está performando surpreendentemente bem. E tem mais: ninguém olha pra Brasil há 3 anos, então você vai beber água limpa chegando primeiro.”
“Tá barato…” A desconfiança era palpável na voz do investidor. “Tá barato há quanto tempo, Joe? Em 2021 você me ligou falando que estava barato, não foi? E ainda me convenceu que uma empresa de cosméticos daí era ESG. Eu até concordei, mas posso falar, Joe? Perdemos uma nota com ela”.
João se viu na corda bamba, cada argumento seu parecia apenas reforçar a muralha de desinteresse do americano. Pressionado, tentou mais uma cartada.

“Mas agora é diferente, os juros estão em queda por aqui! Começamos inclusive a cortar antes de todo mundo. Fizemos nosso dever de casa enquanto o mundo ainda corre atrás da inflação.”
“Joe, você sabe quanto do meu dinheiro vai pra Brasil?”
“1%, senhor” João admitiu, voz baixa.
“E olhe lá! E me explica por que eu perderia meu tempo olhando pra Brasil se os nossos juros estão nos maiores patamares em mais de 20 anos?! Deixo meu dinheiro aqui, Joe! 20 anos! Se toca!”
Um silêncio se instaurou, prenúncio do golpe final na conversa. O americano se antecipou:
“Tem alguma coisa de I.A. pra investir por aí?”
João sentiu ali a oportunidade escorrer por entre seus dedos como areia fina. “Infelizmente não, senhor.”
"Então boa sorte com o seu Ibovespa e suas motos elétricas," disse o investidor, desligando antes mesmo que o banker pudesse argumentar.
O silêncio da linha morta era um lembrete cruel da realidade de João nos últimos 3 anos. Por que era tão difícil vender o Brasil? João, ou Joe, nem ele sabia mais, desligou o telefone cabisbaixo.
Se dirigiu ao térreo, a necessidade de fumar tornando-se insuportável.
Lá fora, sob o céu cinza da Faria Lima, João permitiu que a fumaça do seu cigarro preenchesse o vazio deixado pelo fracasso da conversa.
Ouvir nãos já se tornara uma rotina em sua profissão. Estrangeiros não tinham o menor interesse. Brasileiros preferiam o inabalável IPCA+6% do governo. Sua meta? Longe de ser batida. O bônus daquele ano cada vez mais distante.
Desanimado, voltou em silêncio para o elevador, se questionando em que momento o Brasil seria o tão aguardado país do futuro.
FIM
Bruno Paolinelli

A newsletter Fabuloso Mercado funciona assim:
Toda semana escolhemos uma notícia e criamos um episódio absolutamente fictício em torno dela. Deixamos a imaginação ir longe e escrevemos.
O mercado agora, não tão fabuloso
Desempenhos na semana (e o que chamou nossa atenção):
Ibovespa: -0,67%
S&P: -1,56%
Ifix: +0,05%
Dólar: +1,01%
Euro: -0,60%
US10Y: 4,526% (a taxa)
Petróleo: -0,79%
Ouro: +0,59%
Bitcoin: -7,46%
Café: +5,02%
Soja: -0,93%
Milho: +0,31%
Boi: +0,82%
Assuntos pra você ter conversas fabulosas
Futebol brasileiro! Grandes fundos estão se movimentando para ter alguma posição no cenário. Esta semana foi a vez da gestora Sparta colocar o pezinho no Coritiba Foot Ball Club (PR). Todo mundo torcendo pra um fundo soberano árabe vir fazer as compras daqui uns anos, né?
Quem diria! O Governo americano é um dos maiores donos de Bitcoin do mundo, com um total que pode ultrapassar os US$ 15 bilhões! Mas também, é só esperar alguém vacilar e ir lá apreender, precisa nem comprar. Aí é moleza.
De olho no petróleo! A commodity já chegou aos US$90/barril com o Irã atacando Israel, fazendo os EUA repensarem a recomposição de sua Reserva Estratégica. Pra quem não sabe, Biden já vendeu metade dela (~350mi de barris) para tentar segurar os preços. Falhou.
Agora pense em duas pessoas que vão gostar de ler esta newsletter e manda assim pra eles: “Acho que é sua cara, se inscreve aí!”
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