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Dividendos da Petrobras
Possível volta de dividendo extraordinário faz ação da Petrobras disparar.
Alta volatilidade. Assim desempenharam as ações da Petrobras nesta quinta (4). No final da manhã, a notícia da iminente saída do CEO, Jean Paul Prates, derrubou as ações. Entretanto, logo após as 12h, o jornal O Globo afirmou que os ministros de Lula selaram acordo pelo pagamento de dividendos extras da Petrobras, o que fez as ações dispararem.
Importante: episódio fictício. Não estive em reunião alguma.
“Já vazou?!” ecoou a voz do Presidente da República, parado de pé ao lado de seu recém-adquirido sofá reclinável, revestido em couro italiano. Sentiu uma dor no quadril.
Apesar do semblante resoluto, estava visivelmente afetado pelos acontecimentos daquela manhã. Como é que o convite a Mercadante já circulava na imprensa, minutos depois de ter sido feito?
O Presidente encarou o novo sofá. Era uma peça italiana. Não se lembrava de já ter se sentado ali. O material era impecável, como Janja prometera. “Tratamento exclusivo para evitar ressecamento”, se lembrou das palavras e teve uma súbita vontade de tocá-lo. O que seria um tratamento exclusivo?

Imagem gerada por I.A.
As instruções haviam sido claras para os quatro convidados da reunião das 11 horas: nada do que fosse discutido ali poderia transpor aquelas paredes. Petrobras era um tema sensível, lição já aprendida pelo Presidente.
“O mercado reagiu mal”, antecipou-se o Ministro da Fazenda, deslizando um tablet em direção ao centro da mesa, mostrando gráficos em queda livre.
O Presidente da República, com um suspiro pesado, passou a mão pelos cabelos, um gesto raro que denotava sua insatisfação. “Como é que a gente reverte isso agora?”, questionou, lançando um olhar crítico para um vistoso, mas incongruente, armário de mogno.
Haddad e Jean se entreolharam. “Dinheiro, senhor Presidente”, disse o CEO da estatal, visivelmente abalado com os rumores de sua iminente saída.
“Pra algum jornal específico?”, o Presidente questionou.
“Não, distribuir dinheiro. A Petrobras.”, arriscou o Ministro Haddad, atraindo todos os olhares para si.
Um silêncio pesado se instalou na sala, como se uma inevitável contagem regressiva começasse para aquele que se aventurasse a falar a palavra proibida.
“Desembucha, Haddad”, apressou o Presidente.
O atual Ministro da Fazenda, tentando manter a compostura, falou: “Dividendos, senhor Presidente. A Petrobras poderia pagar dividendos.”
Novamente, silêncio.
Lula olhou pela janela. Sua mente vagou pelo jardim do Planalto. “Será que alguém alimentou meus peixes no Alvorada?” Ele estava visivelmente disperso, já não conseguia lidar bem com a frustração como antes. Seria a idade? “Foi o Moro”, pensou. E tentou se lembrar de quanto estava o placar para a cassação do Senador. Não conseguiu. Sentou no sofá. O couro realmente estava bem hidratado.

Imagem gerada por I.A.
“Quanto a gente arrecadaria com isso?”, murmurou o Presidente, quase para si mesmo, como se não desejasse que nenhum dos presentes ouvisse sua pergunta.
“São R$ 12 bilhões, Presidente. Não dá pra descartar”, disse de bate-pronto Haddad. Aquele número assombrava seu sono desde fevereiro.
Lula não queria saber de dividendos. Construíra toda sua campanha os combatendo.
De repente, um lampejo de inspiração brilhou em seus olhos. Ele ergueu a cabeça. Seu olhar imediatamente encontrou a poltrona ergonômica no fundo do gabinete. Ela também era revestida em couro. “Por que tanto couro, meu Deus?”, pensou.
“Com R$ 12 bilhões dá pra construir navio!”, exclamou, batendo na mesa.
Mercadante, em silêncio desde que entrara, ergueu os olhos, interessado.
Haddad titubeou: “Até dá, senhor Presidente, mas o dinheiro seria pra tentar… quem sabe… diminuir o déficit deste ano”.
Lula gritou. “Lá vem você com essa história de déficit de novo, Haddad! Não é possível! Tudo pra você é número! Não pode ser assim, já te falei! Como é que o Lupi disse ontem, Mercadante? Achei bonito demais aquilo. Gasto não se mede com número, se mede com o que, mesmo?”
Mercadante: “Com felicidade, Presidente”.
”Felicidade! Isso mesmo! Olha que coisa bonita! Bela escolha de palavras. Com quem ele anda conversando?”, desconfiou.
“Mas Lula”, o Ministro Haddad agarrou-se à proposta como um náufrago a um pedaço de madeira. “Precisamos muito desse dinheiro.”
O desconforto em Mercadante e Lula era visível. Os dois velhos amigos se entreolharam.
“E se a gente pagasse metade?”, sugeriu o futuro presidente da estatal. “Acho que a Gleisi não se incomodaria se fosse só metade”.
“Ah é, tem a Gleisi”, lembrou Lula. “Tá bom, vamos fazer metade e você se vira aí com R$ 6 bilhões”.
O celular de Haddad vibra, ele olha assustado para Lula: “Presidente!”
Lula não se deixou interromper: “Mas não pode ser assim, gente! Esse dinheiro era pra Petrobras investir, gerar emprego! Por que é que não compramos a Braskem até hoje?”
“Maceió, Presidente”, lembrou Mercadante.
“Ah é, tem Maceió, né? Melhor não”, reconheceu Lula.
“Presidente”, insistiu Jean Paul, fitando atônito seu celular. Mercadante agora também olhava para a tela, assustado.
“Que foi, gente?”, reagiu Lula irritado.
“Vazou a notícia do dividendo”, disse o CEO, deslizando o aparelho em direção ao centro da mesa, mostrando agora gráficos disparando.

Imagem gerada por I.A.
Lula ficou incrédulo. “Mas como, Jean?! Se eu acabei de decidir?”, gritou. Sentiu novamente a dor no quadril. Definitivamente estava ficando velho para aquilo. “Agora, além de mão invisível, eles têm ouvido invisível também?!”, pensou. Sentou novamente no sofá. Janja já chamara sua atenção sobre ataques de fúria. Respirou fundo. Cheiro de couro.
“Tudo bem”, aceitou. “Vamos manter os dividendos. Parece que acalmou o pessoal.”
Haddad sentiu seu coração saltar, deixou escapar um leve sorriso.
“Isso quer dizer que vamos manter também minha demissão?”, perguntou Jean, a voz carregada de uma esperança fracassada.
“Sim, mas tuíta que não”, decidiu Lula. “Podem ir agora”.
Jean Paul saiu primeiro e se sentou na cadeira do corredor. Ali permaneceu por um momento, contemplando o que seriam suas últimas horas no cargo, uma sensação amarga de perda mesclada à resignação.
Mercadante foi na sequência, indiferente a qualquer tipo de formalidade.
Ao chegar à porta, Haddad se voltou para Lula e, quase cochichando, lembrou: “Presidente, esquecemos de chamar o Ministro Silveira”.
“Tá tudo bem. Depois peço a Janja pra despachar com ele”, disse o Presidente, sem sequer olhar para a porta.
FIM
Bruno Paolinelli

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Toda semana escolhemos uma notícia e criamos um episódio absolutamente fictício em torno dela. Deixamos a imaginação ir longe e escrevemos.
O mercado agora, não tão fabuloso
Desempenhos na semana (e o que chamou nossa atenção):
Ibovespa: -1,02%
S&P: -0,95%
Ifix: +0,41%
Dólar: +1,01%
Euro: +1,44%
US10Y: 4,404% (a taxa)
Petróleo: +4,54%
Ouro: +4,30%
Bitcoin: -5,06%
Café: +13,44%
Soja: -0,55%
Milho: +0,15%
Boi: -0,26%
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