Fiagros, uma história

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Fiagros captam R$ 30 bilhões em três anos

O setor de Fiagros saiu de zero para R$ 30 bilhões em apenas três anos. E agora o crescimento desenfreado está cobrando seu preço, com mais de 400 recuperações judiciais no agro só em 2024.

Importante: episódio fictício. Não estive em brunch algum.

“Cara, to com uma ideia nova de negócio!” disse o primeiro enquanto tentava partir sua avocado toast. O parma era de boa qualidade, o problema era a faca.

“Qual?”

“Vou abrir um Fiagro

“Fundo Imobiliário de Agronegócio?!”

“Exatamente.” respondeu enquanto experimentava seu sour cream. Faltava algo, talvez um toque de limão. ”Amigão, faz favor?”

“Pois não, senhor” apressou-se o garçom para a mesa.

“Qual marca de café você tem aí?”

“Você quer saber se é expresso ou coado?”

“Não, a marca mesmo. Verifica lá pra mim, por gentileza.”

“Cara, mas você é nascido e criado em São Paulo, o máximo de verde que já viu foi o Ibirapuera” questionou o segundo.

“Meu, eu fui num resort no Pantanal semana passada, coisa fina. Já foi? Aquilo ali é uma potência! Todo mundo fala que o Brasil já é o celeiro do mundo e não sei o que, mas o tanto de terra ainda não plantada naquele lugar é absurdo! Imagina quando cultivarem lá?”

“Então cara, eu acho que não pode…”

“Não pode?! Vou conferir isso depois, mas não importa. To decidido!”

O segundo insistiu “Cara, mas o que você entende de safra?!”

“Pô, conheço tudo! Estagiei lá quando estudava na FGV.”

“Esse é o Banco Safra!” rebateu o amigo, rindo.

“Mas não deve mudar muito não, é tudo mercado.” desconversou com indiferença. Recusou o café da casa.

“É, parece que você tá bem decidido mesmo. Não tá preocupado com a concorrência? Posso te falar? Tem uma turma forte nesse mercado, tá? Gente que entende muito e com bolso bem fundo!”

“Meu, desencana! Concorrência todo negócio tem. Mas é mercado novo, cara. Foram regulamentar esse negócio, sei lá, antes de ontem. Ninguém sabe de nada direito! E outra coisa, de conceder crédito eu entendo demais! Trabalhei minha vida toda nessa área lá no banco.”

“Isso eu concordo, mas era crédito pra grande empresa, elétrica e tals. Agro é bem mais volátil e tem um ciclo que se não ficar esperto você quebra.”

“Mas isso não me preocupa tanto. Você sabia que a maioria dos cotistas de Fiagro acha que todo Fundo de agro pega o dinheiro e compra fazenda?”

“Sério?” a surpresa fez o segundo derramar seu café.

“Seríssimo! Nem sabem que a maioria é literalmente um fundo de crédito, ou de papel como chamam por aí.”

“Nossa, mas aí é muito grave.”

“To te falando, cara! Indústria nova! É o melhor negócio pra ganhar dinheiro hoje!” disse cheio de orgulho “Apesar que cripto também tá voltando pra moda, talvez eu olhe algo pra esse lado também.”

“Mas você não tem medo de dar errado?”

“Medo eu tenho de deixar essa oportunidade passar. E outra, se der errado eu vendo a gestora pra alguma asset amiga nossa e vida que segue. Parto pra próxima.”

“E os seus cotistas?”

“Cara, você já lidou com investidor de Fundo Imobiliário?”

“Não tive essa oportunidade.”

“É a melhor coisa do mundo! Não reclamam, só te elogiam e passam o dia te defendendo em fóruns online. Mas tem um negócio importantíssimo! Você não pode, em hipótese alguma, parar de pagar dividendo todo mês pra eles.”

“Mesmo se o caixa não deixar?!” estranhou o segundo.

EM HIPÓTESE ALGUMA! Tem que dar seus pulos! E o melhor, nem precisa muito de um departamento de Relação com Investidores. É só postar de vez em quando coisas no Twitter que o pessoal já adora.”

A conversa seguiu com os amigos admirados pelos novos horizontes que surgiam à frente. Percebiam o quanto o jovem e incauto mercado de capitais brasileiro trazia oportunidades para os sagazes especialistas que ousassem navegar a tênue linha entre o justo e o certo.

Do balcão, o já experiente garçom observava a mesa. Sentia crescer um leve sentimento de repulsa por aqueles clientes cheios de caprichos e certezas. Não via a hora de conseguir sua tão sonhada liberdade financeira para poder largar o emprego e trabalhar com o que amava. Mais alguns anos juntando dinheiro e seus Fundos Imobiliários se certificariam disso.

FIM

Bruno Paolinelli

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Toda semana escolhemos uma notícia e criamos um episódio absolutamente fictício em torno dela. Deixamos a imaginação ir longe e escrevemos.

🎷 Assuntos pra você ter conversas fabulosas

  • 🕵️ Não é só mais a Receita Federal de olho! A compra de criptomoedas está chamando a atenção do Banco Central. Está pesando na balança comercial do país! Já são US$ 4,69 bilhões só no primeiro trimestre deste ano.

  • 🌳 Investir em floresta?! Uma modalidade desconhecida do grande público tem crescido nos corredores da Faria Lima. São os Fundos de Investimento Florestais. O BTG já captou US$ 7 bilhões nessa brincadeira e já gere 1,2 milhão de hectares nos EUA e América Latina.

Aqui acabamos. Até domingo que vem!

Mas se chegou até aqui, não deixe de indicar a Fabuloso Mercado!