Lula visita JBS

Tempo de leitura: 4 min

Presidente visita frigorífico da JBS

Empresa anuncia R$ 150 milhões para dobrar unidade em Campo Grande, que se tornará a maior planta da América Latina.

IM Business, 12 de abril de 2024

Importante: episódio fictício. Não estive em reunião alguma.

“Preciso ir mesmo?” questionou o Presidente.

“São 4 mil empregos” justificou Paulo. A intenção do Ministro da Secom era que Lula se aproximasse do agro, mas sabia que o tema era delicado. Mencionar empregos seria a melhor saída.

“Mas vão criticar tanto…” disse, antevendo a enxurrada de fotos suas ao lado dos irmãos.

“Vão, mas se você for no frigorífico ou ficar no Alvorada dando comida pra carpas esse pessoal vai te criticar igual."

Ele tinha razão, pensou Lula. E pior, se o ex-presidente aproveitasse sua ausência e aparecesse por lá, ia pegar muito mal. Mas será que o convidariam? Seria extremamente deselegante, mas já aceitara que era incapaz de compreender a turma do agro. Olhou para o Ministro, de pé atrás da grande mesa de mogno, o móvel favorito do Presidente naquele gabinete. “Ministro da Secretaria”. Nunca tinha parado pra pensar nisso. Riu.

“E tem a questão do agro, né?”, lembrou-se.

O Ministro se sentiu aliviado de o assunto ter partido do Presidente. “Sim, precisamos nos reaproximar deles.”

Lula sabia que o agro representava poucos votos, mas o dinheiro era grande demais. Será que as pessoas têm alguma noção de quanto custa uma campanha presidencial? Se lembrou de já ter lido algumas matérias na mídia sobre isso. Riu de novo.

“Sei que não vão me mandar mais dinheiro. Mas se pelo menos diminuíssem o que mandam pra ele… Só isso já valeria a visita.”

“E eu falo o que lá, hein?” questionou ao Ministro.

“Melhor focar na empresa, sobre ser a maior do mundo em proteína animal. Só essa planta vai abater mais de 4 mil cabeças por dia! Mas acho prudente pinta-los como trabalhadores. Não pode deixar transparecer que são bilionários, ainda mais depois dessa confusão com o Elon.”

“Verdade”. 4 mil cabeças de gado por dia? Lula pensou, impressionado. Quantos bois será que o Ratinho tem? Aliás, ele ainda tem boi? Lembrou de ter visto um desses cortes de podcast sobre isso.

Imagem gerada por I.A.

“Presidente, tem um porém.” titubeou Paulo. “Tudo que produzirem lá… é pra vender pra China.”

Lula arregalou os olhos. “Só me faltava essa!” gritou, frustrado. “Vou ter que viajar pra inaugurar um açougue chinês?!”

“Frigorífico, Presidente” corrigiu o Ministro.

“Ah, tudo a mesma coisa!”

“Ah, e eles solicitaram que o senhor consiga pessoalmente a licença da planta nova com o Presidente Xi” sussurrou o Ministro, implorando pra não ser ouvido.

“Pessoalmente?!” reagiu de sobressalto o Presidente. “Não temos ninguém por lá pra resolver isso?!”

“Só a Dilma…”

“É…” reconheceu Lula. Lidar com os amigos orientais era sempre um problema. Era preciso visitar, revisitar, aprovar, reaprovar. Boa comunicação acima de tudo, pensou. Manter o combinado não era muito do feitio da turma. Lembrou-se de repente de seu passeio pela Amazonas com Macron, cada vez mais no passado, assim como o acordo UE-Mercosul.

“Tem outra coisa.” titubeou o Ministro, receoso com o próximo assunto. “Eles devem querer conversar sobre a Eldorado depois do evento.”

“É o que isso, mesmo?”

“Aquela empresa de celulose, que estão na justiça pelo controle dela.”

“De novo, isso? Não resolveram até hoje?”

“Senhor, eles entram com liminar, o indonésio lá derruba. Daí os caras arrumam uma liminar também, o pessoal daqui derruba. Tá nessa desde 2017.”

Lula se sentiu ainda mais desanimado. Além da viagem ainda teria que ligar para os amigos da toga. Nunca era bom pedir algo ali, pensou. Sempre surgia algo depois.

Pediu licença ao Ministro, queria ficar sozinho. Sentiu uma dor nos ombros, como se o peso dos compromissos o esmagasse cada dia mais. O cansaço já era permanente e não se lembrava da última vez que dormira sem se preocupar com a agenda do dia seguinte.

Se dependesse dele passaria uma semana em Rio Quente, com Janja. Mas não. Precisava aparecer em Campo Grande, a 35°C e pra ouvir pedidos de favores ainda.

E ali, de frente para o grande gramado do Palácio, percebeu o quanto essa história de o presidente ser o homem mais poderoso do país era uma grande bobagem.

FIM

Bruno Paolinelli

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