Mais renda, menos poupança. As apostas online

^{Menos de 5 minutos é o que você precisa pra ler a de hoje}

^{_{Importante: episódio fictício. Não estive em reunião alguma.}}

"Amor, o que vamos jantar hoje?", gritou a esposa para o marido, mais uma vez trancado no banheiro. Isso a incoomodava. Como é que alguém podia se trancar mais de 20 minutos toda santa vez? E nem era banho...

"Já vou!", ecoou a voz do marido.

Era um dia feliz pra ela. Havia sido promovida no trabalho e, apesar do pouco aumento no salário que acompanhava a promoção, ajudaria bastante em casa. O carro do casal já tinha 4 anos, já apresentava os primeiros problemas e não estava quitado ainda. Sem falar na televisão nova. Nem sabia que dava pra comprar uma em tantas parcelas.

Sentada no sofá, se lembrou mais uma vez da história em torno do carro.

Recém casados e sem terem completado o ensino médio, as perspectivas não eram grandiosas. O pouco dinheiro que tinham havia sido gasto na festa de casamento, seu sonho desde a adolescência. Convencera o reticente marido de fazê-la com a promessa de que o próximo passo do casal seria garantir o sonho dele: um carro zero. A saída foi financia-lo.

De lá pra cá ela conseguira um emprego que a permitira juntar uma pequena poupança. Não pagava muito bem, era verdade, mas gostava da sua rotina. Mas ele, desempregado há dois anos, recebendo apenas o auxílio do governo, não conseguia contribuir com as parcelas e o orçamento da casa não fechava mais. Resgates frequentes na poupança era o que vinha segurando as pontas nos últimos meses. E retirar dinheiro investido a incomodava profundamente. Era como se um pedaço de sua vida se desprendesse toda vez que clicava naquele perverso botão “resgatar” do aplicativo do banco. Mas não mais. A promoção acabaria com isso.

"Amor! Vem logo, poxa!”. Barulho de descarga, agora só mais uns minutos.

E se ela trocasse de celular? As suas amigas e algumas de suas colegas já tinham o novo modelo do iPhone e ela ainda estava na versão de 3 anos atrás. Não tinha o que reclamar dele, afinal era super cuidadosa e seus celulares sempre duravam mais que o normal, mas a câmera da nova versão era muito incrível! Dependendo da parcela, talvez daria um jeito. Afinal, trabalhava pra isso.

Vagando pela sua rede social favorita, caiu em um vídeo sobre investimentos. O influenciador falava sobre investir em ações de dividendos, através da tal da Bolsa. Já ouvira o filho de seu vizinho comentar algo sobre isso, mas não entendia direito. Talvez fosse o desinteresse. Era tão mais intuitivo só deixar na poupança mesmo. Falavam sempre que era um mal investimento, mas fizera as contas uma vez e, pro tão pouco dinheiro que tinha, a diferença de rendimento não a motivava a estudar mais sobre o assunto. Fora que não precisava pensar em "declaração de imposto de renda", algo tão estranho e alheio à sua vida quanto o tal do Bitcoin. Agora o sujeito recomendava investir 200 reais todo mês. Como eram desconectados da realidade. De onde ela tiraria 200 reais em meio a tantos carnês? A internet era mesmo uma grande ilusão.

"Amor, quanto você acha que está uma parcela de um iPhone novo hoje?", gritou a esposa.

"Oi amor, cheguei", disse o marido entrando na sala. O cabelo estava despenteado e vestia uma roupa velha. Ela notou que era a mesma com que ele dormira.

"Que cara é essa?", estranhou a esposa.

"Amor", começou o marido. "Eu sei que você falou pra eu deletar aquele aplicativo..."

"Ah não, vida!", ela interrompeu. "De novo esse assunto? O que aconteceu dessa vez?"

"É o Santos, mor. Eu tinha certeza que eles iam ganhar hoje, contra um time que chama Amazonas, pela segunda divisão. O time chama “Amazonas” , amor! Mas perderam, e eu tinha apostado na vitória", disse, cabisbaixo, a voz se esvaindo a cada nova palavra. "Perdi o dinheiro que tínhamos separado para o mercado hoje. Me perdoa, amor".

A esposa levou as mãos à cabeça. Toda a felicidade e empolgação com a promoção se esvaiu imediatamente. Sentiu um vazio no peito e o desespero fez palpitar seu coração. No mês passado, era ela quem havia perdido com o tal do tigrinho. Agora, o marido com apostas esportivas. Não sabia mais o que fazer, pois tinha consciência que era um vício e que existiam poucas soluções.

Não adiantava a renda do casal aumentar. A dívidas dos boletos e carnês pareciam nunca diminuir, muito menos acabar. Percebeu que não sentia mais fome. Se levantou e, sem dizer nada, foi se deitar. Afinal, amanhã precisaria mais uma vez apertar o perverso botão no aplicativo do banco.

FIM

_{Bruno Paolinelli}

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Aqui acabamos. Até domingo que vem!

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