Quando no Gabinete, só boas notícias.

^{5 minutos é o que você precisa pra ler a de hoje}

^{Importante: episódio fictício. Não estive em reunião alguma.}

“Qual dos dois a gente mostra, então?” Haddad e Tebet já estavam dentro do gabinete do Presidente, mas ainda não haviam decidido qual versão do novo Boletim Macrofiscal mostrar para o chefe.

“Já te falei” cochichou a ministra. “Tem que ser o que inclui o desastre lá no Sul, mesmo ele trazendo uma piora relevante do PIB. Não dá pra fugir dos fatos.”

“Simone” o ministro da Fazenda manteve sua notória serenidade “deixa eu te dar um toque já que você chegou por aqui esses dias. Não se aparece no gabinete dele com notícia ruim. Se a notícia for ruim, você dá um jeito de parecer que é boa. Quer um exemplo? Semana passada eu precisava contar pra ele que o Copom não cortou os juros como tinham prometido. Eu sabia que ele ia ficar puto. E comigo ainda. O que eu fiz? Falei que o pessoal da Faria Lima tinha perdido uma grana, porque a Bolsa caiu e a imagem do Roberto Campos ficou arranhada com a turminha dele.”

“Entendi…” disse Tebet, balançando a cabeça.

“O presidente ficou em êxtase! Você precisava ver o rosto dele, radiante! Nem ligou pros juros” completou o ministro.

Tebet aceitou. Sabia que Haddad conhecia melhor o terreno. Pensando bem, nem entendia o que ela mesmo estava fazendo ali. Nunca se dera muito bem com as pessoas daquela sala. Mas a política tinha seu preço.

“Bom dia, pessoal! Obrigado por terem vindo hoje” Janja tomou a iniciativa de iniciar a reunião. “Vamos começar? Tenho muita coisa pra fazer hoje ainda. Haddad?”

“Pois não” o ministro deu um passo à frente. “Presidente, trouxe aqui uma atualização das nossas projeções pra esse ano e a notícia é boa: nosso PIB deve crescer ainda mais do que achávamos. Já estamos em +2,5% pra esse ano.”

Lula se levantou, o sorriso de satisfação só foi interrompido pela dor que sentiu no quadril. “Que baita trabalho! Continue assim, Haddad! E isso porque a Magda nem entrou na Petrobras. Aí vocês vão ver o que é investimento!” Olhou de relance para seu ministro Paulo Pimenta. “Tem que colocar seu pessoal da Comunicação pra trabalhar em cima disso aí hein, Paulo!”

Haddad sorriu “Obrigado, Presidente. Em julho soltamos mais um e incluiremos na conta o desastre no Sul, mas tenho certeza que com o bom trabalho que estamos fazendo o impacto não deve ser tão relevante.”

Tebet sorriu, Haddad sabia das coisas.

“Inclusive, pessoal” Janja interrompeu a conversa “Vou precisar que liberem a agenda do nosso avião pra eu levar minhas doações pro Rio Grande do Sul.”

O avião agora também era dela? pensou Haddad, rindo por dentro.

“Ele está reservado pro Paulo Pimenta” disse Rui Costa. A capacidade do ministro da Casa Civil de saber no detalhe sobre tudo o que acontecia no Planalto ainda impressionava muitos dos presentes ali.

“Isso” concordou Paulo “eu ia justamente pro RS tomar a frente da situação lá.”

“Entendi” disse Janja num tom de voz aborrecido “Mas não sei se vai dar pra ir junto comigo, preciso de todos os assentos”. Olhou para Lula “Pensei em fazer uma foto bonitona, colocando uma cesta básica em cada um deles, uma coisa bem simbólica, sabe? Eu passando de fileira em fileira, orgulhosa do que conquistamos.”

“Mas o Paulo tem que ir, Janja" Lula interviu. “Já coloquei ele no comando da reconstrução lá.”

“Hum” aquiesceu Janja. “Vou deixar um assento pra ele então. Ministro, depois o senhor dá uma passadinha ali na minha sala pra gente alinhar isso, tudo bem?”

“Inclusive, seria interessante criarmos mais um ministério pro Paulo por conta disso, presidente.” Rui Costa sugeriu. “Pensei em chamar de Secretaria Extraordinária para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul.”

A decepção no rosto de Paulo Pimenta foi imediata. “Pô, precisa chamar assim? Já sou ministro da Secretaria de Comunicação, vou ser ministro de mais uma Secretaria? Quero ser ministro de Ministério também, poxa” reclamou Paulo.

“Isso é o Rui quem decide” cravou Lula, se divertindo com a situação. “Gente, cadê o Padilha?”

“Ele tá em outra reunião com os líderes partidários” Rui Costa comunicou.

“Putz” disse Lula e todos no gabinete permaneceram em silêncio, em solidarização. Lidar com os outros poderes era uma tarefa que ninguém ali estava disposto a assumir. No passado, fora o hobby de Lula, mas a idade avançada e a terrível experiência em Curitiba o deixaram nitidamente mais impaciente com tudo. Haddad tinha uma meta, o déficit zero. Aliás, duas metas, ser o sucessor de Lula, e o Congresso era o grande obstáculo às duas. Tebet novamente não sabia o que fazia ali. Rui Costa gostava de mandar, não de ouvir. Paulo Pimenta só queria ser, enfim, um ministro. E Janja…

Bem, Janja não estava ali pra brincadeira.

FIM

_{Bruno Paolinelli}

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Aqui acabamos. Nos vemos domingo que vem!

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